10/11/11

O regresso de António Pedro Vasconcelos



Caro Benfiquista

Eu sei que, à semelhança da maioria dos benfiquistas, ferves em pouca água. E, como a maioria dos benfiquistas, és ansioso e depressivo. É natural: os mais velhos, como eu, habituámos-mos a ganhar, a ser um exemplo de desportivismo e a ganhar - pela simples razão de que éramos superiores. Em tudo. Dentro e fora do campo. Mas, quase trinta anos de dirigentes incompetentes e da muita batota que tomou conta do futebol, foram o bastante para nos fazer andar com a cabeça baixa, a viver de ilusões e de promessas, de raros sucessos e de muita frustração. Por isso, os mais novos como tu e como os meus filhos e netos, perdem a confiança com muita facilidade.
Mas gostava que registasses o que te digo: O Benfica ganhou o campeonato, ontem, em Braga. O Porto vai acabar em quarto. O Sporting em terceiro. O Braga em segundo. Talvez não seja exactamente esta ordem, mas acho que não me engano muito. O Benfica já jogou com dois candidatos ao título, fora de casa, e não perdeu. Aliás, esta época ainda não perdeu! Mesmo com apagões (cirúrgicos?), não perdeu. Não te esqueças que tínhamos o jogo dominado quando começou aquela farsa. E foi preciso que o Pedro Proença inventasse aquele penalti para eles conseguirem chegar à baliza! (Aliás, é sempre assim, os árbitros portistas favorecem o Porto, os benfiquistas têm que mostrar que são isentos!).
Já jogámos com dois dos três rivais. E ambos no campo dos adversários, os mesmos que, nos anos anteriores, nos roubaram pontos, em jogos que foram verdadeiras batalhas campais, dentro e fora do estádio. E estamos em primeiro, ex-aequo com o Porto, que só jogou connosco. O Braga também. E o Sporting não jogou com nenhum dos três. Acrescento que já se começa a perceber que o Sporting não tem um futebol consistente e que o Domingos não é o treinador que muitos se precipitaram a pôr no pódio.
O problema do Benfica é que nunca soube respeitar os treinadores portugueses. É curioso que uma equipa que, desde o Cosme Damião, durante anos, fez gala em só ter jogadores portugueses, sempre tenha tido treinadores estrangeiros. E, agora que praticamente só joga com estrangeiros, teve dois dos três melhores treinadores portugueses e não os soube estimar como mereciam: primeiro foi o Fernando Santos, que fez milagres com uma equipa medíocre e sem banco, e agora o Jesus (o outro é, obviamente, o Mourinho, goste-se ou não do futebol das equipas que ele treina). Foram os melhores treinadores que o Benfica teve desde, vá lá, o primeiro Eriksson!
O Jesus é um treinador de topo, convence-te disso, mas um treinador que está a fazer a sua habituação ao sucesso e ao convívio com um grande clube e uma grande equipa. Mas o que ele sabe de bola não cabe em dez enciclopédias e em vinte manuais. O modo como ele percebe as qualidades dos jogadores e os potencia é de um fora de série: pensa no David Luíz, no Di Maria, no Fábio Coentrão, agora no Gaitan, e por aí fora, tudo jogadores que ele valorizou de um ano para o outro. O que se passa, este ano, é que ele aprendeu a jogar cínico (Manchester, Porto, Braga), o que tira nota artística às exibições, mas garante resultados. Este ano, além de ganhar o campeonato, vamos longe em todas as provas. E olha que, em relação ao Benfica eu nunca me enganei (Artur Jorge, Vale e Azevedo, Fernando Santos, Camacho, Quique, agora o Jesus). Regista isso e mais esta: muitos benfiquistas, no ano passado, sem tentar perceber o que nos levou àquele mau começo e péssimo final (mas lembra-te que, no meio da época, o Benfica praticou um futebol de luxo), pediram a cabeça do Jesus, esquecendo o que ele fizera em 2009/10! E posso dizer-te com orgulho que fui um dos que sempre o defendeu contra ventos e marés; e, sobretudo, contra os que pediam a sua cabeça.
Só acrescento uma coisa: o Benfica, este ano, só tem um problema: não tem substitutos para os centrais, e não tem um lateral esquerdo! A equipa fica coxa, sobretudo com o modelo de jogo do Jesus: só ataca pela direita, e fica nas mãos (aliás, nos pés) do Maxi Pereira, que é um jogador esforçado (que o Jesus fez crescer muito), mas que não é o Coentrão. E o Emerson também é um jogador esforçado, mas que não sabe subir com bola e que, por muito trabalho que se faça, dificilmente nos resolve esse problema. O que significa que, provavelmente, temos que ir ao mercado em Janeiro fazer este ajustamento, a menos que o Jesus, neste três meses que tem pela frente, com a matéria prima que tem à disposição, fabrique um lateral esquerdo, como fez com o Fábio Coentrão.
Mas isso são pequenos problemas, ao lado da grande equipa que o Jesus está novamente a fabricar (e não te esqueças que nos falta o Enzo Perez, que seria um titular indiscutível).
Mas, caro benfiquista, acredita em mim: este ano, se não houver batota por fora, vamos ser campeões. E, daqui para a frente, se estivermos unidos e mantivermos a confiança na equipa e no seu treinador, podemos estar no começo de uma nova era de Glória, de liderança e de vitórias.
Um abraço

2 comentários:

  1. Anónimo11.11.11

    O problema e esse mesmo. Estarmos unidos...

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  2. O problema é esse mesmo, se nao houver batota por fora...

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