15/12/10

O Rei chegou há 50 anos

Eusébio aterrou em Lisboa e o futebol português mudou significativamente.

Apesar dos valores que mais recentemente entre nós despontaram, Eusébio é, ainda, a grande referência do futebol português. Nascido no modesto bairro de Mafalala, em Lourenço Marques, hoje Maputo, o jovem moçambicano cedo deu nas vistas como juvenil na equipa de “Os Brasileiros”. Já mais a sério defendeu as cores do Sporting local, filial dos “leões” da Metrópole, depois de duas tentativas não coroadas de êxito para jogar no rival Desportivo. Alertado por Hilário, que conhecia bem Eusébio, o Sporting de Lisboa não foi, contudo, lesto na transferência para o clube-sede e o Benfica adiantou-se num rocambolesco golpe, garantindo por 250 contos os serviços do jogador. A 15 de Dezembro de 1960, Eusébio embarcava em Lisboa. Há 50 anos. Ou seja, há meio século, o futebol português deu uma cambalhota inesquecível. Até aí, o Sporting era o clube português com mais títulos nacionais emr elação ao Benfica (10-9). Quando Eusébio deixou o Benfica, 15 anos depois, o palco era o mesmo, mas o cenário, esse, já era outro (21-14).
Burocracias de vária ordem, envolvendo DGD (Direcção Geral do Desporto) e FPF (Federação Portuguesa de Futebol), atrasaram o processo que só ao cabo de cinco meses conheceu o seu epílogo, favorável ao Benfica. Desta forma, só a 23 de Maio, já devidamente inscrito, pode Eusébio patentear os seus recursos. Foi num desafio de “reservas”, frente ao Atlético (4-2). Um “hat-trick” do novo reforço não deixava dúvidas quanto à sua capacidade. Até final da época, ainda teve oportunidade de se sagrar campeão nacional, ao jogar o último encontro da época, no Restelo (4-0), contribuindo com um golo. Na Taça é que as coisas não correram de feição. Integrado numa equipa de segunda (o “onze” principal estava em Berna para a final da Taça dos Campeões), viu-se eliminado pelo Vitória de Setúbal (1-4), tendo falhado a sua primeira grande penalidade. Mas, para não variar, foi ele o autor do golo do Benfica.
A Europa só dele tomou conhecimento no Verão de 1961, quando no renomado Torneio de Paris marcou três golos ao Santos de Pelé em pouco mais de um quarto de hora. Para quem tinha entrado após o intervalo foi obra! Na sua primeira época inteira na Luz (61-62), não fez a coisa por menos e sagrou-se, aos 20 anos, campeão europeu. A vítima foi o consagrado Real Madrid (5-3), com dois golos da sua autoria, depois de notável desempenho na fase de qualificação. Algo que contribuiu decisivamente para a Bola de Prata com que foi agraciado. Em 63, Benfica e Eusébio voltariam à ribalta europeia, mas o Milan não consentiu a reedição da proeza. O mesmo aconteceria em 65 (Inter, 0-1) e 68 (Manchester United, 1-4 após prolongamento), em outras tantas finais ingloriamente perdidas.
Impedido por Salazar de se transferir para Itália, sob o pretexto de estar classificado como “património nacional”, Eusébio por cá ficou, coleccionando vitórias atrás de vitórias que ainda hoje o colocam no top dos predestinados. Para além dos êxitos já referidos, Eusébio foi campeão nacional por 11 vezes, o que é recorde, e ganhou a Taça de Portugal por cinco. Mas é nos golos que a sua marca é indelével. Foi melhor goleador europeu por duas vezes e recordista, a nível interno, por sete. No Benfica, é ainda detentor do máximo nacional absoluto (727 golos) e recordista nacional nas provas da UEFA (57). Elevou o emblema da águia nas representações pelas diversas selecções a que foi chamado, sendo ainda, trinta anos depois da última internacionalização, o melhor marcador da “equipa de todos nós”, com 41 golos, recorde batido por Pauleta no século XXI.
Operado por seis vezes ao joelho esquerdo, Eusébio jogou no Benfica até final da época 1974-75. Rumou, depois, aos EUA, Canadá e México, para terminar a sua carreira em Portugal, ao serviço do Beira Mar e do União Tomar. Desde 1980 faz parte dos quadros técnicos do Benfica, sendo hoje o grande embaixador do clube e da selecção nacional.
O seu nome está intimamente relacionado com o sensacional terceiro lugar que a selecção nacional alcançou no Mundial 66, numa altura em que Portugal estava longe de constituir uma potência da modalidade. Para além dos nove golos então marcados, o “Pantera Negra” foi considerado por muitos o melhor jogador do certame e só não repetiu a conquista da Bola de Ouro (nº 1 europeu) do ano anterior por escasso ponto.
Rui Tovar

1 comentário:

  1. Anónimo15.12.10

    Ainda bem que vieste!

    http://forcamagicoslb.blogspot.com/2010/12/sorteios-naaaaaa.html

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