Tenham cuidado, ele é perigoso, ele é o Óscar Tacuara Cardozo!
No derby de todos os medos o mais corajoso foi Cardozo. O Tacuara pediu desculpas com golos e não com palavras de circunstância no final de uma partida. A Luz rendeu-se ao goleador das últimas épocas e a águia voou por fim! Voou sobre um leão ao qual faltaram garras. A um clube como o Sporting não basta ter a bola, é preciso ameaçar como um verdadeiro leão. Na primeira parte jamais o conseguiu, na segunda pouco o fez e saiu derrotado. Saiu porque hoje o rival encarnado é mais equipa, está mais crescido e afugentou os fantasmas das primeiras rondas. O derby encheu a autoconfiança da águia.
Do outro lado, Carlos Xistra, que tornou o emocionante jogo numa partida mais pobre, com faltas atrás de faltas vistas só pelo próprio, ou pelos assistentes, sem razão, sem ninguém entender. Foi a personagem triste do encontro, o mais defensivo de todos em campo. A jornada anterior, com outro protagonista, tinha sido demasiado escaldante para o juiz, que até começou bem, mas acabou por ser decisivo, não no resultado, mas sim nos desempenhos de encarnados e verdes e brancos. O jogo seria mais solto, com alguém que percebesse quando deve deixar os verdadeiros protagonistas sê-lo
A revolução esperada no onze fez o leão espreguiçar-se num 4x2x3x1, com Djaló a fugir muitas vezes da direita para o meio. A ideia só resultou nuns poucos minutos iniciais, a altura em que o Benfica analisou o adversário. A partir dos quatro, porém, os encarnados partiram para o ataque.
Cardozo atirou ao poste, na primeira instância, não desviou para o golo na segunda e à terceira, na decisão suprema, atirou a contar. Três vezes três do Tacuara: terceira tentativa, terceiro golo consecutivo em derbies com o Sporting. Mais do que isso, um quarto de hora de grande esforço, de entrega, para o tribunal da Luz aplaudir. Pazes feitas.
O leão estava obrigado a reagir. Fê-lo com bola, mas a ideia que ficou de 45 minutos foi que essa posse era mais cedida, que conquistada. Muitas dificuldades para furar as linhas adversárias, perante o melhor Benfica da temporada, no sector recuado, a saber fechar espaços e a pressionar como em 2009/10.
O primeiro tempo resume-se depois em poucas palavras: uma arrancada de Saviola, aos 29, que Patrício segurou e faltas, infracções, simulações também e cartões amarelos: uns justificados, outros longe disso. O primeiro tempo chegou ao fim com Xistra a empobrecer uma partida que, a partir do 1-0, os encarnados souberam controlar.
Espelho, reflexo, o que quer que seja, começou a segunda parte como a primeira. Leão com bola, Cardozo a não perdoar, na redenção total com o terceiro anel. O Tacuara fez o 2-0 num lance de eficácia total, com poucos toques e o último fatal: o leão ficou ferido de morte.
Sem Aimar em campo, o Benfica até se deu a esse luxo, Ruben Amorim deu a Liedson a oportunidade de voltar a marcar na Luz. Perda de bola infantil e o 31 dos leões em direcção à baliza, como tantas vezes no passado, com os corações encarnados à espera do costume. Mas a seca continua. E desde Abril de 2007 que o Sporting não marca na Luz. Liedson não se encontra com o passado, tal como o leão, que parece fugir da própria história, da que o tornou enorme.
Dois minutos depois, Postiga testou Roberto, que defendeu. O leão quase acabava aí no encontro (ia ter um ou outro lance mais), no que toca ao ataque, enquanto a águia enchia o peito e quase se enchia de golos. Rui Patrício salvou o terceiro (grandíssima defesa) e viu Cardozo desperdiçar o hat-trick.
Num jogo de temores, o Benfica teve força de campeão. Não foi excitante, foi antes cumpridor e mais intenso. E isso bastou-lhe para vencer um leão, igual em grandeza e que continua à frente na tabela, mas que está, claramente, mais longe da identidade que o fez ser quem é.
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